William DuVall |
Esclarecimentos em 2020: Este texto é de 2018. Eu decidi trazer aqui para o blog pois acho pertinente. Tem algumas edições para melhor esclarecimento do texto. Boa leitura!
Este texto é um misto de experiências. Estou quase terminando de assistir o documentário “Negritudes Brasileiras” da cientista social e youtuber Nátaly Neri. E, por isso, lembranças da noite de 11 de novembro de 2018, onde pude presenciar a segunda edição do festival “Solid Rock” que contou com as bandas Black Star Riders, Alice in Chains e Judas Priest me vêm a mente. Falarei aqui sobre a segunda banda.
Confesso que o Alice in Chains não é a minha banda de cabeceira. Eles vieram no Rock in Rio e eu simplesmente não liguei, na época, o que causou estranheza entre meu grupo de amigos. Mas não é disso que falarei, claro. E sim, que em 2018 assisti a um show deles por conta desse mini-festival. Lembrando que meu foco era o Judas Priest, então eu vi por consequência.
Por muito, muito, muito tempo eu me questionei sobre gostar de rock e heavy metal enquanto uma mulher negra. Eu me sentia uma outsider: não via muita gente igual a mim tanto na platéia como no palco. Para muita gente, o rock é música de branco com platéia e músicos brancos. Mesmo que todos nós saibamos que os negros que criaram o rock.
Não é novidade para ninguém que a figura de pessoas negras no meio do rock/heavy metal ainda causa estranheza. Ainda tratamos Elvis Presley como “Rei do Rock”, quando temos figuras como Sister Rosetta Tharpe e Chuck Berry que vieram antes dele, e eles sim deveriam ser considerados como os Pais Fundadores/Reis do estilo musical.
Voltando ao documentário da Nátaly, que me inspirou a escrever este texto, há uma fala da Ary Silva que me contemplou: onde ela, também, sentia como uma impostora por gostar de rock.
“Durante uma parte da minha vida, na adolescência eu fiquei assim com o rock. Ouvia muitos comentários em casa: Essa música não é pra você. Você não é branca.”, Ary Silva, estudante.
Para mim, sempre foi um processo difícil me sentir pertencida ao rock. Eu sei que para uma galera pode parecer estranho e até uma ótica “vitimista”, afinal o discurso de “somos todos iguais” ainda perdura no estilo. O que é paradoxal, pois há pessoas como um certo ex-vocal de uma banda que fez saudações nazistas em um passado bastante recente ou o vocalista de uma banda de black metal que é abertamente nazista e as pessoas “passam pano” para isso.
Voltando ao centro deste texto, que é o show do Alice in Chains, eu pude pela primeira vez me sentir um pouco menos “impostora”. Ver um vocalista negro, com o cabelo igual ao meu, cantando algo que eu curto foi recompensador. Principalmente após as extensas leituras e as minhas experiências que me fizeram ser mais consciente da minha negritude e ancestralidade.
Uma das coisas que notei logo de cara, na plateia do dia 11 de novembro, foi a grande presença de pessoas negras. Este fator ajudou muito em me encaixar. Me pergunto se elas sentiam o mesmo que eu: ver alguém semelhante, sendo o frontman de uma banda. Ver alguém dizendo, de certa forma, que não há problema algum em não seguir um “padrão pré-estabelecido”, que é possível essa sensação de pertencimento. Não há impostores ou outsiders aqui. Welcome, fellas! E por isso serei grata eternamente a existência de DuVall e outras pessoas negras que fazem parte da cena rock/metal.
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